Com contratos milionários, falta de assistência aos mais
pobres e domínio absoluto da máquina pública, o ex-prefeito Zé Farias mantém
Brejo sob controle, enquanto sua sobrinha, a prefeita Thamara, cumpre papel
decorativo. Diante disso, cresce o clamor popular por sua renúncia.
BREJO (MA) — Enquanto a população enfrenta filas na saúde, abandono
nas comunidades rurais e omissão generalizada da prefeitura, quem governa de
fato a cidade não ocupam o cargo de prefeito. Zé Farias, ex-prefeito e figura
conhecida da política local, atua nos bastidores como o verdadeiro gestor de
Brejo, valendo-se do mandato da sobrinha, Thamara Castro, como escudo e fachada
institucional.
Apelidado nos corredores políticos como o “Fidel Castro do
Sertão”, pela postura autoritária e pela longevidade de sua influência, Zé
Farias segue comandando licitações, contratos e decisões estratégicas como se a
cidade fosse um negócio familiar.
Prefeitura ou empresa
privada?
Diversos contratos com valores considerados “exorbitantes”
por observadores independentes vêm sendo firmados com prestadores de serviços
ligados ao grupo político da família. Ao mesmo tempo, setores essenciais como
saúde, educação e assistência social agonizam por falta de recursos e gestão
eficaz.
“A cidade está sem médico em várias unidades, não tem
remédio, mas os contratos de aluguel de carros e estruturas chegam a cifras
astronômicas”, relata um servidor público que pediu anonimato.
A prefeita marionete
Eleita como promessa de renovação, Thamara Castro revelou-se
apenas uma extensão do tio, obedecendo a diretrizes, mantendo nomeações
orientadas por ele e não demonstrando qualquer autonomia frente às grandes
decisões do município.
O clima entre vereadores e bastidores da prefeitura é de
silêncio e medo. Qualquer tentativa de questionamento interno resulta em
retaliações políticas, cortes de recursos e isolamento.
Diante disso, cresce entre lideranças políticas e
representantes da sociedade civil o apelo para que a prefeita renuncie
voluntariamente ao cargo, como ato de dignidade e responsabilidade pública. Sua
permanência não só perpetua o domínio de Zé Farias como impede a reconstrução
moral e institucional da cidade.
“Se ela não governa, se não decide, se é apenas usada, então
a renúncia seria um gesto honroso, e não uma derrota. Seria um favor à cidade e
à própria consciência”, afirma um membro da OAB local.
Vereador da oposição:
uma resistência solitária
Enquanto a base governista permanece alinhada a Zé Farias, um
único vereador da oposição tem se destacado na fiscalização, denúncias e
atuação social. Mesmo com recursos limitados e sem apoio da máquina, ele
promove ações concretas e cobra explicações do poder executivo com frequência.
Moradores já o comparam ao “prefeito moral” da cidade, em
contraponto à gestão invisível de Thamara.
O uso pessoal da
máquina pública
Para especialistas em administração pública, o caso de
Brejo-MA é exemplo clássico de aparelhamento político: concentração de poder,
vínculos familiares, uso privado da estrutura pública e enfraquecimento dos
mecanismos de controle.
“O maior risco é que o povo normalize essa relação promíscua
entre o público e o privado, como se fosse inevitável”, alerta um cientista
político da UFMA.
E agora, Brejo?
A pergunta que paira no ar é: até quando o povo aceitará essa
encenação? Quantas promessas serão feitas — e não cumpridas — antes que o
eleitor perceba que quem sofre, na ponta, são sempre os mesmos: os mais pobres,
os invisíveis do sistema.
Zé Farias pode continuar acreditando que é eterno. Mas até no
sertão, a história mostra que o poder absoluto cansa, e o povo, um dia, acorda.
E talvez, se Thamara tiver algum apreço por sua própria biografia, deveria ser
ela a primeira a reconhecer que sua presença no cargo já não serve ao povo —
apenas ao projeto pessoal do tio.