
Correio Braziliense
O placar final da comissão especial do impeachment
— 38 votos favoráveis e 27 contrários ao afastamento da presidente — manteve em
aberto a votação decisiva do próximo domingo, no plenário da Câmara. Aliados do
Planalto calculam que, a fim de obter os 342 votos necessários para afastar a
presidente Dilma Rousseff, a oposição teria de ter obtido, ontem, ao menos, 43
votos, para que a proporção se repita no fim de semana. Já os oposicionistas
apostam em um plenário mais heterogêneo que a comissão montada, segundo eles,
“para que o governo não perdesse a primeira batalha do impeachment”.
Proporcionalmente, a oposição obteve pouco mais de
58% dos votos válidos na comissão ontem. A guerra no plenário será mais
intensa, já que o processo de Dilma só segue para o Senado se o impeachment for
aprovado por dois terços dos deputados. A estratégia passa, também, pela
necessidade de um quórum mais elevado. Para se ter uma ideia, parlamentares
experientes calculam que, na aprovação de emendas constitucionais por 308 votos,
a margem de segurança é de, no mínimo, 490 deputados em plenário. Processos de
impeachment são aprovados com 342 votos.
Para aliados do vice-presidente Michel Temer, o
resultado expressou quase que fielmente os cálculos internos feitos antes da
votação. “Foi o melhor resultado entre aqueles que esperávamos conseguir. É bom
lembrar que essa comissão foi montada com base nas regras, definidas pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), que beneficiavam o Planalto”, disse o deputado
Jutahy Júnior (PSDB-BA).
O tucano estima que a oposição tenha, hoje,
aproximadamente, 330 votos em plenário, em um universo de 60 parlamentares
ainda indecisos. “O resultado demonstra a fragilidade da defesa da presidente
da República. Ela cometeu crime de responsabilidade previsto na Constituição e
terá a admissibilidade de seu processo de afastamento aprovado, segundo
determina a mesma Constituição”, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador
Aécio Neves (MG).
Já o chefe do gabinete da presidente Dilma,
ministro Jaques Wagner, que, ao lado do ministro Ricardo Berzoini (Secretaria
de Governo) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido um dos
principais estrategistas para salvar Dilma, também afirmou que o resultado de
ontem estava dentro do esperado. “Nossa conta era de 27 a 31, 32. Mas os 27
eram dentro até porque representam 41,5% da comissão. No plenário, dariam 213
votos. Em alguns momentos, tenho falado que nossa conta varia entre 207, 208”,
calculou Wagner. “Eles pregam o golpe dissimulado e podem comemorar número, mas
não dá o resultado que gostariam. Vamos continuar trabalhando até o dia da
votação em plenário”, afirmou.
Wagner afirmou que a presidente Dilma Rousseff
recebeu com tranquilidade o resultado e que “agora é hora de trabalhar”. “Os 27
deputados que considero heróis da democracia porque reconheço mais que
defensores governo”, afirmou Jaques Wagner.
QG em hotel
O resultado aumenta ainda mais a pressão nos três
dias que antecedem o início dos debates do impeachment, previstos para começar
na próxima sexta-feira (leia mais na página 4). O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva montou um quartel-general no Hotel Royal Tulip e, quando não está
participando de atos públicos como os realizados na noite de ontem, no Rio, se
entrincheira para conversas individuais com parlamentares de diversas legendas
na expectativa de garantir o mínimo de 171 votos favoráveis a Dilma.
Já a oposição seguirá pressionando os indecisos.
Mas o vazamento de um áudio ontem (leia mais na página 5) na qual o
vice-presidente já discursou como se o impeachment tivesse sido aprovado pode
embolar os planos. “Vamos evitar usar o WhatsApp para divulgar nossa
estratégia”, ironizou um aliado do vice-presidente.
Além da batalha pelos votos em plenário, ainda
paira no ar o risco da judicialização, já que o advogado-geral da União,
ministro José Eduardo Cardozo, apontou uma série de irregularidades que teriam
sido cometidas ao longo do processo de impeachment. O presidente da comissão
especial, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), defendeu o trabalho do colegiado.
“Diferentemente de 1992 (impeachment do ex-presidente Fernando Collor de
Mello), em que a comissão se reuniu apenas nove horas e não promoveu debates e
esclarecimentos, fizemos mais de 50 horas de reuniões e debates, dando
oportunidade de ampla defesa à presidente”, afirmou.
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