Câmara aprova Código Florestal e impõe derrota ao governo
Por Maria Carolina
Marcello
A Câmara dos Deputados impôs mais uma derrota ao Planalto na
votação do polêmico Código Florestal nesta quarta-feira, ao aprovar o relatório
do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), apoiado por ruralistas e que pode ser alvo de
veto da presidente Dilma Rousseff.
O texto foi aprovado por 274 votos a favor e 184 contra,
repetindo uma derrota já vista na primeira votação do projeto na Câmara, em
maio do ano passado. Mais uma vez, a regularização das áreas de proteção já
ocupadas foi o principal foco de atritos. O resultado da votação desta quarta
atende demanda antiga do setor ruralista.
A vitória do texto de Piau só foi possível com a participação
de parlamentares da base do governo Dilma Rousseff, uma vez que a oposição não
teria número suficiente. O governo defendia a aprovação do texto do Senado sem
alterações, o que não ocorreu.
Enquanto a bancada do PT votou quase inteira contra o
relatório de Piau, da forma como queria o governo, apenas três peemedebistas
seguiram a orientação governista. Mesmo sendo o principal aliado da base, o
PMDB já havia declarado que apoiaria integralmente o voto do relator.
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP), disse que a
bancada agropecuária tinha muitos votos, mas reconheceu o revés imposto por
aliados.
"Nós perdemos. O governo perdeu. Uma parte da bancada
derrotou o governo num assunto bastante delicado", afirmou.
O Código Florestal passou pela Câmara dos Deputados, onde foi
aprovado em maio do ano passado, impondo a primeira derrota do governo Dilma no
Congresso. Deputados aliados aprovaram a emenda 164, de autoria do PMDB, que na
prática liberava as ocupações já existentes em áreas de preservação e
transferia aos Estados parte da responsabilidade de regulamentar a recuperação
nessas propriedades.
Depois da derrota, o Planalto passou a participar ativamente
das negociações sobre o código no Senado, costurando um texto de tênue
equilíbrio, na avaliação dos que integraram as conversas.
Aprovado por senadores, o projeto foi novamente remetido à Câmara, que tinha o
poder de aceitar ou rejeitar as mudanças.
POLÊMICA
O ponto que criou mais tensão no relatório de Piau diz
respeito à definição das faixas de vegetação a serem reflorestadas ao longo de
rios. Parlamentares ligados ao setor agropecuário argumentam que exigências
muito rígidas em margens de cursos d'água podem inviabilizar a produção em
propriedades, principalmente as pequenas.
Já os ambientalistas consideram que a flexibilização da
ocupação nessas regiões premia aqueles que desmataram e prejudica quem obedeceu
às leis ambientais.
O parecer de Piau, de início, não estabelecia faixas para a
recuperação ao longo de cursos d'água. Mas por determinação do presidente da
Câmara, Marco Maia (PT-RS), com base no regimento interno da Casa, se viu
obrigado a retomar parágrafo que prevê que em rios com até 10 metros de
largura, deve ser recomposta a vegetação numa faixa de 15 metros em suas
margens. O parecer deixa indefinido, no entanto, o exigido para rios de outras
larguras.
Na opinião Piau e do presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA), Moreira Mendes (PSD-RO), a definição das faixas ficará sob
responsabilidade dos Executivos federal e estaduais, o que na prática, retoma a
emenda 164.
"Fica uma indefinição, por enquanto. O PRA que vai
definir", disse Mendes, referindo-se ao Programa de Regularização
Ambiental, que será preparado pela União e pelos Estados e pode definir as
faixas.
Já o líder do PV e presidente da Frente Parlamentar
Ambientalista, Sarney Filho (MA), interpreta que a ausência de faixas provoca
uma situação de "insegurança jurídica".
"Isso (a indefinição) é uma prova concreta da loucura
que está sendo a aprovação do relatório do Piau", disse Sarney.
A versão do texto apresentada nesta quarta por Piau também
inclui um dispositivo que autoriza a Câmara de Comércio Exterior (Camex) a
adotar medidas de restrição a importações de produtos agropecuários e
florestais de países que não tenham regras de proteção do meio ambiente
"compatíveis" com a legislação brasileira.
POSSIBILIDADE DE VETO
O texto aprovado nesta quarta-feira vai à sanção
presidencial. Dilma chegou a anunciar, após a primeira votação na Câmara dos
Deputados no ano passado, que vetaria os pontos que considerasse prejudiciais.
E desde a semana passada, quando o parecer de Piau foi divulgado o recado foi
claro: o governo não apoiaria por sugerir "anistia a desmatadores".
Para Sarney Filho, não resta outra alternativa à presidente,
senão vetar o projeto por inteiro. Ele considera o texto um "retrocesso".
"A presidente Dilma tem que assumir sua responsabilidade
e vetar esse absurdo, esse monstrengo", afirmou.
O líder petista na Câmara admite que o veto seja um caminho,
mas não descarta outros instrumentos para tentar corrigir o texto como uma
medida provisória ou até mesmo um projeto de lei.
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