Por:
Felipe Amorim e Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
O
ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi preso nesta quarta-feira (19) em
Brasília, seis dias depois de se tornar réu na Operação Lava Jato, no Paraná. Ele foi detido nos arredores de
sua residência de Brasília, que fica na Asa Sul.
Também foi decretado o bloqueio de bens de Cunha no valor de R$ 220.677.515,24.
A
ordem de prisão foi expedida ontem pelo juiz o juiz Sergio Moro,
responsável pelos processos na 13ª Vara Federal de Curitiba. Cunha é réu sob a
acusação de ter recebido propina em contas na Suíça do esquema
de corrupção da Petrobras.
Às
15h, Cunha embarcou no avião da Polícia Federal rumo à capital paranaense. A
previsão é que ele chegue por volta das 17h30.
No pedido de prisão, os procuradores da força-tarefa
da Lava Jato sustentaram que a liberdade do ex-parlamentar representava risco à
instrução do processo, à ordem pública, como também a possibilidade concreta de
fuga em virtude da disponibilidade de recursos ocultos no exterior, além da
dupla nacionalidade (Cunha é italiano e brasileiro).
A denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República)
sustenta que o ex-deputado recebeu mais de R$ 5 milhões em propina por
viabilizar a aquisição de um campo de petróleo em Benin, na África, pela
Petrobras.
De acordo, com o MPF, Cunha recebeu US$ 1,5 milhão a
título de propina, por intermédio do operador financeiro João Augusto Rezende
Henriques, que depositou o valor em uma conta na Suíça. Henriques também se
encontra preso preventivamente desde agosto de 2015 e já respondia pelos mesmos
fatos perante a 13.ª Vara Federal Criminal desde junho de 2016. Na mesma ação
penal foram denunciados Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Petrobras, Idalecio
Oliveira, empresário português que era proprietário do campo, e Cláudia
Cordeiro Cruz, mulher de Cunha, que é acusada de seu utilizar de uma conta em
seu nome para ocultar a existência dos valores.
Razões
para a prisão
O Ministério Público Federal cita dez motivos para a
prisão de Cunha.
1) requerimentos no Tribunal de Contas da União
(TCU) e Câmara dos Deputados sobre a empresa Mitsui para forçar o lobista Julio
Camargo a pagar propina a Eduardo Cunha;
2) requerimentos contra o grupo Schahin, cujos
acionistas eram inimigos pessoais do ex-deputado e do seu operador, Lucio
Bolonha Funaro;
3) convocação pela CPI da Petrobras da advogada
Beatriz Catta Preta, que atuou como defensora do lobista Julio Camargo,
responsável pelo depoimento que acusou Cunha de ter recebido propina da
Petrobras;
4) contratação da Kroll pela CPI da Petrobras para
tentar tirar a credibilidade de colaboradores da Operação Lava Jato;
5) pedido de quebra de sigilo de parentes de Alberto
Youssef, o primeiro colaborador a delatar Eduardo Cunha;
6) apresentação de projeto de lei que prevê que
colaboradores não podem corrigir seus depoimentos;
7) demissão do servidor de informática da Câmara que
forneceu provas evidenciando que os requerimentos para pressionar a empresa
Mitsui foram elaborados por Cunha, e não pela então deputada
"laranja" Solange Almeida;
8) manobras junto a aliados no Conselho de Ética
para enterrar o processo que pedia a cassação do deputado;
9) ameaças relatadas pelo ex-relator do Conselho de
Ética, Fausto Pinato (PRB-SP); e
10) relato de oferta de propina a Pinatto,
ex-relator do processo de Cunha no Conselho de Ética.
Moro citou ainda risco à ordem pública e risco à
aplicação da lei penal ao defender a prisão do ex-deputado.
Outro
lado
Antes de publicar um posicionamento no Facebook, os
advogados de Cunha haviam se manifestado.
O criminalista Ticiano Figueiredo criticou a prisão
preventiva de seu cliente: "O Supremo passou seis meses com o pedido de
prisão para decidir em relação a Eduardo Cunha e não prendeu porque não
entendeu que não havia nenhum dos requisitos necessários e aí surpreendentemente
Moro, com uma semana que o processo está na mão dele, decreta prisão sem
qualquer fato novo". Para ele, a decretação da prisão é
"surpreendente".
Fernanda Tortima, que também defende o ex-deputado,
afirmou que a equipe está se informando sobre os documentos que
embasam o mandado de prisão e vão se pronunciar em breve.
Outras
denúncias contra Cunha
O deputado também é alvo de uma terceira denúncia
criminal, que ainda não foi aceita pela Justiça. O caso foi encaminhado pelo
ministro Teori Zavascki à Justiça Federal do Distrito Federal.
Há ainda seis inquéritos em que Cunha é investigado
suspeito de participação em casos de corrupção. O deputado nega as suspeitas e
tem afirmado que vai provar sua inocência.
Um inquérito apura se ele recebeu R$ 52 milhões em
propina do consórcio formado por Odebrecht, OAS e Carioca Christiani Nielsen
Engenharia, que atuava na obra do Porto Maravilha, no Rio.
Cunha também é réu em outro processo ligado às
suspeitas de corrupção na Petrobras, no qual ele é acusado de receber propina
ligada à contratos de navios-sonda pela Petrobras. Esse caso está sob
a responsabilidade do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro).