O município de São Miguel do Gostoso/RN,  aderiu um projeto desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, consequentemente, pioneiro a utilizar uma moeda própria como incentivo à economia local. “Nossa moeda tem valor agregado. A ideia é que os lojistas do município usem este dinheiro como complemento de renda, beneficiando seus funcionários, empregados e estimulando o nosso comércio”, explicou João Eudes Rodrigues, presidente da Associação de Mulheres, Jovens e Produtores de Tabua (AMJP), entidade gestora do Banco Solidário do Gostoso. “Sim. Também temos um banco”, acrescentou.

João Eudes explicou que, para o município criar o Banco Solidário do Gostoso, foi preciso mais de um ano de discussões. “Trata-se de uma iniciativa da UFBA. Existe um projeto chamado Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e Gestão do Desenvolvimento Territorial (ITES), programa desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia, que executa ações do Governo Federal através da Secretaria Nacional da Economia Solidária”, disse ele. Ainda de acordo com o presidente, a proposta é a implantação de seis bancos semelhantes no Nordeste. “No Rio Grande do Norte nós fomos o primeiro”, orgulhou-se.

Gostoso no nome e na moeda

“1 gostoso vale um real. E as notas tem total segurança”, disse João Eudes. O presidente da AMJP contou que as notas foram confeccionadas em pepel especial, semelhantes ao da moeda oficial do país. “Elas foram feitas pela mesma empresa que faz o real. Tem, inclusive, alguns dos mesmos itens de segurança que o dinheiro convencional tem, como numeração de série e marca d'água”, revelou.

A Casa da Moeda do Brasil, responsável pela produção do Real para o meio circulante brasileiro, esclareceu que não fabrica a moeda social denominada 'Gostoso'. A empresa pública ressalta que não tem nenhuma participação no projeto.

Figuras

Para cada valor impresso, foram escolhidas figuras que caracterizam o município. “Os desenhos foram selecionados a partir de muita discussão no conselho gestor do banco. Nossa ideia foi estampar coisas que nos representassem”, disse João Eudes. “Na cédula de 50 centavos tem a imagem de um caju, fruta típica da nossa região. Na de 1 gostoso tem a feira agroecológica. Na de 2 gostosos foi impresso a Tabua, planta aquática que serve para se fazer artesanato e que dá o nome à comunidade onde fica o banco. Na de 5 gostosos tem a figura de um pescador, símbolo da pesca. E na de 10 gostosos existe o Boi de Reis, trazendo a nossa dança tradicional”, explicou.

Hoje, na cidade, João Eudes diz que circulam 1 mil gostosos. “A quantidade de notas eu não sei, mas o valor total em circulação é de 1 mil gostosos, ou seja, 1 mil reais”, afirmou. Ele explicou também que o Banco Solidário do Gostoso, que funciona na sede da AMJP, na comunidade de Tabua, oferece três diferentes linhas de crédito: Cred Jovem, Crédito para Consumo e Crédito para a Produção. “Quem tiver interesse, pode procurar o nosso banco e solicitar o crédito. Depois, é só ficar esperando a análise e liberação”. 

Uma das conquistas do Banco Solidário do Gostoso, ainda de acordo com João Eudes, é a falta de burocracia. “O que o banco quer é o compromisso no pagamento. Nesse sentido, foi criado um conselho gestor formado por instituições que atuam no município e que acreditam que uma nova forma de economia é possível”, disse ele. O conselho define as principais linhas de ações do banco. A ideia é expandir para todos as comunidades rurais e sede do município. Os estabelecimentos comerciais da cidade e de cidades vizinhas aceitam. A maioria, supermercados”, afirmou. “Mas, estamos trabalhando para que em breve todos estejam aceitando a moeda, principalmente os postos de combustíveis, farmácias, lojas de roupas e os serviços de mototáxi, que são muito comuns em nossa cidade”, finalizou.


Contribuição: G1