Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil pode ter um terço de sua população formada por analfabetos funcionais: gente que assina o nome ou copia frases inteiras – mas não sabe o significado do que acaba de transcrever.

O episódio do livro de português recheado de erros gramaticais a ser distribuído para 485 mil estudantes é o que podemos chamar de “cômico se não fosse trágico”. Mostra o descaso com a educação e que o MEC não pretende mover uma palha sobre a questão, sinalizando que pode haver motivação política no Programa Nacional do Livro Didático para distribuir tal baboseira.

Tem-se a impressão de coisa encomendada de cima para baixo. A empáfia, misto de certeza, da professora Heloísa Ramos – autora deste libelo contra o português erudito intitulado “Por uma vida melhor” (para ela, que recebeu R$ 700 mil) – leva à desconfiança de que tenha, digamos assim, forte retaguarda para oferecer a seus leitores e alunos frases como “os menino pega o peixe”. Até o Word sublinha e realça tanta falta de erudição. Preconceito linguístico da ferramenta?

Quando a sigla MEC é citada, o nome de Fernando Haddad vem a reboque. Foi ele que, ainda ministro do Governo Lula, permitiu os vazamentos da prova do Enem – desmoralizando o mecanismo de avaliação e deixando indignados milhões de pais e estudantes. Mas Haddad foi petista de primeira hora na campanha de Dilma. Por isso, e somente por isso, manteve o cargo no novo governo.

Não se pode esperar muito deste “companheiro” – que tem no currículo o recente escândalo da merenda estragada e desviada de escolas públicas — em termos de benfeitorias à educação. Mesmo que aspire à prefeitura de São Paulo.

Desagravo inoportuno

O fato de não ter esquentado os bancos de escola — mas ter chegado ao trono do planalto – não deveria conferir ao ex-presidente o direito de se vangloriar desse feito, nem mesmo a vontade de perpetuar a baixa escolaridade entre as características de um povo que não desiste nunca. Se este livro for um tributo ou um desagravo, terá sido o maior dos erros.

O humor brasileiro ocupa-se de amenizar essa triste realidade. Com sua inteligência habitual, Marcelo Tass reuniu no livro “Nunca antes na história desse país” as lapidares e polêmicas frases de um presidente pouco letrado, mas nem por isso menos capaz.

Se analisarmos um dos exemplos colhidos por Tass – “Minha mãe era uma mulher que nasceu analfabeta” – concluiremos que Lula talvez esteja mesmo incluído na legião de analfabetos funcionais. Afinal, toda mãe é uma mulher.

É uma premissa. Além disso, toda mulher – o mesmo ocorre com os homens – nasce mesmo analfabeta. Não há nada de diferente entre Dona Lindu e as mães de todos os brasileiros e brasileiras – sem exceção. A frase é uma profusão de imprecisões e pleonasmos.

Mais debochado, o jornalismo José Simão se ocupou de criar o “Lulês”, o idioma falado pelo ex-presidente. Entre os verbetes, estão a irresistível “Alopatia” (dar um telefonema para a tia) e “Razão” (lago muito extenso porém pouco profundo). Quanto ao verbete “Barbicha” parece desnecessária sua tradução.

Resta torcer para o MEC não dicionarizar a irreverência de Simão ou a pesquisa minuciosa de Tass. Mas o fato é que se educação não é brincadeira, introduzir ideologia em livro didático é, definitivamente, um escândalo.

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