Juros altos e excesso de parcelamentos geram risco à dívida privada



Qual o estado da dívida privada no Brasil? Todas as evidências apontam para um crescimento econômico nos últimos anos impulsionado por um acesso maior ao crédito. Isso preocupa alguns observadores, assim como as altas taxas de juros que os brasileiros continuam a pagar (próximas dos 50% anuais, exceto na compra de imóveis ou automóveis). Os mais apavorados apontam para o fato de que as proporções da dívida em relação ao PIB permanecem relativamente baixas, os depósitos compulsórios das reservas bancárias, e a espécie mais tóxica de endividamento, os empréstimos hipotecários, é desconhecida.

Uma intervenção não é iminente, mas um aspecto do mercado de crédito brasileiro é motivo para preocupações: o extraordinário encorajamento a compra em parcelamentos, mesmo dos itens mais baratos. Quase nenhuma compra em uma loja brasileira, seja de roupas, móveis, ou eletrodomésticos, é realizada sem a clássica pergunta “Crédito?” no fim. Supermercados oferecem vôos domésticos divididos em até dez vezes sem juros (ou seja, com os juros escondidos no preço à vista; uma das razões pelas quais comprar no Brasil é tão caro).

A foto acima, tirada no domingo de Páscoa, mostra ovos de páscoa e colombas que podem ser pagas em até dez vezes, sem juros (é claro). De acordo com as letras miúdas, o pagamento mínimo mensal é de R$ 10. O excesso de doces pode não derrubar a economia brasileira, mas é incômodo pensar que pessoas estão pagando por eles dez meses depois.